ARTISTAS
Roberto Conte |
O espaço arquitetónico encontra nas imagens fotográficas de Roberto Conte uma atmosfera carregada de significados e valores, onde o ser humano está fisicamente ausente. Partindo da pesquisa artística do casal alemão Becher, dos anos setenta e da New Wave da fotografia de arquitetura italiana dos anos oitenta, o fotógrafo propõe uma nova e interessante dimensão arquitetónica como resultado da sua própria pesquisa estética que utiliza diferentes elementos: a escolha de atmosferas densas, com céus cinzentos e ameaçadores, os fortes contrastes de luz nos interiores de salões e escadas dos edifícios, a qualidade gráfica da textura das paredes e das superfícies, etc. Todos estes elementos transformam as imagens: a uma mera e fria gravação documental típica da fotografia alemã e italiana, substitui-se uma perspectiva lírica e sentimental, quase sublime, onde os edifícios e as arquiteturas parecem procurar um lugar certo e definido no espaço e no tempo, na tentativa de inserir-se e de interagir novamente com o contexto urbano e social.
INDUSTRIAL LIMBO
As imagens fotográficas de Roberto Conte projetadas nesta sala têm como tema os edifícios e os complexos industriais devolutos, ou seja, elementos arquitetónicos, sem utilização no presente, mas que são parte da história e que poderão ser um desafio para o futuro. Realizadas numa década, entre 2007 e 2016, estas fotografias são expostas pela primeira vez em Portugal. A estrutura desta seleção de imagens, chamada Industrial Limbo, foi pensada por forma a sublinhar a semelhança dos espaços representados com a evanescência do limbo: por um lado, os edifícios com o seu estado indefinido e suspenso, por outro, as fotografias, apresentadas sob uma aparência efémera e evanescente. Os fortes contrastes cromáticos e de luz destas fotografias suscitam no espetador uma dimensão dramática e emocionante, interesse e espanto por estes lugares devolutos.
Roberto Conte, Sem Título, 2014, fotografia digital.
Roberto Conte
Roberto Conte (1980) vive em Monza, perto de Milão. A partir de 2006 começou a fotografar, explorando inicialmente as ruínas pós-industriais no hinterland milanês e outras tipologias de lugares abandonados, tais como escolas, quintas, hotéis, bases militares e hospitais psiquiátricos. Nos últimos anos teve a oportunidade de visitar numerosos locais esquecidos, quer na Itália quer além dos limites nacionais, focalizando-se, em particular, em lugares em estado de abandono da ex-Alemanha de leste (onde também viveu), e ainda na Polónia, na Bélgica, em França, na Geórgia, na Arménia e nos Estados Unidos.
Em simultâneo com esta investigação desenvolveu, no decorrer dos anos, um interesse específico relativo à fotografia de arquitetura, preferindo os edifícios inspirados no brutalismo e no modernismo socialista.
As imagens de Roberto Conte encontram-se em diferentes publicações e livros, entre os quais se destacam os volumes This Brutal World, publicado por Phaidon Press (2016), e Concrete Concept, editado por Frances Lincoln (2016). Em 2015 ganhou o primeiro prémio na segunda edição do concurso Eurostars Berlin Photography, com um tríptico sobre as arquiteturas berlinenses.